Silvio Berlusconi e Ruby Rubacuori

14 jan Silvio Berlusconi e Ruby Rubacuori

Eu juro: não queria falar do Presidente Silvio Berlusconi tão cedo, neste blog. De fato, é um assunto muito obvio para quem quer falar de coisas italianas, pelo menos nestes últimos 15 anos. Mas todos os jornais italianos hoje tem o Berlusconi na primeira página, acusado pelo tribunal de Milão de crimes de concussão e exploração da prostituição de menores de idade, e penso que seja meu dever explicar um pouco aos perplexos amigos brasileiros o que está acontecendo no meu, as vezes, desventurado país.
De outro lado, não tenho medo de provocar divisões, por assim dizer, “políticas”: o Berlusconi tem estimadores exclusivamente na Itália, e nunca até hoje encontrei alguém que me dissesse, por exemplo, “ah, que inveja, vocês são governados por um político da estatura do Silvio Berlusconi, parabéns!”
Normalmente acontece exatamente o contrario, as pessoas ficam muito curiosas de entender como em um “país desenvolvido” um personagem deste tipo possa ter ficado quinze anos governando, ou de qualquer maneira condicionando a vida política da nação. Eu nestes casos costumo abrir os braços e falar: “boh?”, que em italiano significa, mais ou menos: “sei lá!” De verdade tenho algumas idéias a respeito, mas não vou explicitá-las agora.

Vamos à atualidade, tentarei explicar brevemente o que está acontecendo.
A premissa: já há algum tempo a imprensa relatou que Silvio gosta muito de oferecer festinhas na sua residência romana e na sua mansão de Arcore. Berlusconi admite a circunstancia e se justifica publicamente dizendo que trabalha muito e de vez em quando precisa relaxar. Normalmente nestas festas participam muitas jovens mulheres, algumas das quais passam a noite nas casas do Presidente; também é aclarado que muitas delas receberam nestas circunstâncias dinheiro e presentes de algum valor. Veronica Lario, que na época ainda era esposa de Berlusconi declarou em uma carta publicada nos jornais que seu marido estava “doente” e que “precisava de ajuda”.

Os antecedentes: Uma noite de maio do ano passado uma menina marroquina de 17 anos, Karima Ruby El Mahroug, sem família, ficou presa na delegacia acusada de roubo. Nestes casos a lei obriga a procurar uma comunidade que possa cuidar do menor de idade. Mas, logo, a delegacia começa a receber telefonemas que preocupam enormemente os funcionários; até chegar a ligação do Presidente que, sem intermediários, faz pressão para que a moça seja entregue em custódia a uma mulher que logo se apresenta aos policiais: trata-se de Nicole Minetti, enfermeira, 25 anos, também amiga do premier (foi até candidata eleita no partido dele). Berlusconi afirma naquela ocasião que Ruby é sobrinha do Presidente do Egito, Muhammad Mubarak. Ruby sai da delegacia (contra o parecer do juizado pelos menores) junto com Nicole, que logo a abandona e perde qualquer contato com ela.
Enfim chegamos aos dias de hoje: os juízes descobriram, rastreando o celular de Ruby Rubacuori, que ela tinha passado, antes daquele dia de maio, vários dias e várias noites na residência de Berlusconi, durante ao menos 3 meses. Os juízes acusam Silvio Berlusconi de concussão (por ter usado o seu poder para “convencer “ os policiais a libertar Ruby) e de exploração da prostituição de menor de idade, crime que prevê reclusão de 6 meses até 3 anos. Os juízes estão tentando também obter um processo com “rito imediato”, em função da clareza das evidências acusatórias, e convidaram Berlusconi para prestar depoimento no dia 22 de Janeiro.
Penso que não precise de muitos comentários: toda a história é, a meu ver, enormemente triste, e é para deixar uma nota de alegria que vou concluir esta postagem com a reação oficial dos advogados de Silvio: eles declararam que a ação dos juízes de Milão constitui uma “gravíssima intromissão na vida privada do Presidente do Conselho, sem precedentes na história judiciária do país”. Não é extraordinário?

Marco De Liso
Sobrinho do Rei do Uzbequistão
italianonline