11 mar Um metro e meio de amor pátrio
Há quem fale que na Itália tudo fica sempre igual; outro lugar comum, nestes tempos, é que no parlamento a maioria “Berlusconiana” e a oposição “democrática” não se entendem sobre nada. Muito bem, notícia de hoje é que na verdade uma mudança irá acontecer, e que todas as forças políticas vão concordar. O assunto todavia é surpreendente, e vai inclusive na contramão pelo menos da evolução, por assim dizer, genética do povo italiano.
È o seguinte: será aprovada pelo parlamento italiano uma proposta, apoiada por todas as forças políticas, que baixa relevantemente o limite de altura necessário para alistar-se nas forças armadas. Até hoje, precisava no mínimo de 165 centímetros para os homens, e 161 para as mulheres. Daqui para frente, também os baixinhos poderão servir a pátria, no exército, na marinha como na aviação: 150 cm, será tudo o que precisará ter, sem diferença entre homens e mulheres, pondo fim também a qualquer discriminação de gênero!
Não posso resistir à tentação de pensar que esta atenção com as pessoas de dimensões concentradas possa ser mais uma consequência da extensão do poder do nosso premiê, Silvio Berlusconi. Todo mundo sabe como ele se diverte nos fins de semana, mas ninguém conhece exatamente sua altura. Baixinho, ele é, com certeza, mas quanto, é segredo de estado, tanto quanto as dimensões dos realces do sapato presidencial. Uma vez, durante a campanha eleitoral, acusou a esquerda comunista de chamá-lo de “anão”, enquanto ele tinha uma altura normal, de 171 centímetros, especificou. Não tenho nada, mesmo, com as pessoas de baixa estatura, mas os eleitores italianos, frente a esta declaração, deveriam ter sacado que esse homem tinha, com o conceito de verdade, uma relação pelo menos complicada.
Mas enfim, agora todo mundo parece feliz de por fim àquela discriminação que de fato tornava impossível a carreira militar para muitos italianos. Mas quantos são os italianos de baixa estatura? Nós não somos com certeza vikings, mas a altura media dos italianos cresceu bastante nas últimas décadas, devido às melhores condições de vida e de desenvolvimento. Como sempre, tem também as diferenças regionais. Nas grandes ilhas, Sicilia e Sardegna, a população é pequena e responde mais àquele estereótipo do italiano miudinho e moreno, mas hoje em dia os contatos entre populações diferentes está levando também estas regiões a um crescimento da altura media.
Naturalmente, a variedade é sempre muita, e de agora em diante as forças armadas poderão aproveitar das qualidades especificas daqueles brevilíneos que, como falaram os parlamentares que estão apresentando o projeto de lei, são melhores do que os demais em muitas tarefas, como dirigir tanques ou lançar-se de para queda dos helicópteros. Afinal, Napoleão não tinha um metro e cinquenta e cinco? Vamos reformá-lo só por isso?
Quero concluir com um ditado bem italiano, que todo mundo conhece no meu pais, e que une, como muitas vezes acontece, a sabedoria gastronômica à filosófica: nelle botti piccole c’è il vino buono. Nos barris pequenos é que está o vinho melhor. Agora vocês sabem como responder, se alguém lhe chamar de baixinho!