A Festa da Bandeira Nacional

A Festa da Bandeira Nacional

Hoje na Itália se comemora o nascimento do “tricolor”: a bandeira nacional, verde, branca e vermelha. A notícia ganha a primeira página nos maiores jornais porque este é o ano do 150º aniversário do estado unitário. Nem todos sabem que de fato a história da Itália como um único estado é muito recente, sendo que depois da queda do império romano passaram quase 1400 anos antes de voltar a ter uma entidade política que governasse o inteiro território. Isso tem naturalmente infinitas consequências  culturais e linguísticas, das quais hoje falarei apenas parcialmente.

A bandeira italiana, como muitas outras européias, nasce daquela que os franceses, por meio das guerras napoleônicas, exportaram em vários estados no começo do século XIX, junto com os princípios da revolução. A Repubblica Cisalpina, que foi a primeira a adotá-la no dia 7 de janeiro de 1797 (por isso o aniversario), era de fato um estado regional criado por Napoleão em função anti-austriaca, e não teve uma longa vida. Durante o século 19 o tricolor se afirmou como representante das instâncias de liberação da dominação austríaca, até ser escolhido como símbolo do novo estado que nasceu em 1861. No dia da unificação, apenas 4% da população sabia falar e entender a língua italiana.

Agora, é interessante se perguntar quanto os italianos amam esta bandeira. No debate político atual um importante partido do governo, a Lega Nord, não perde ocasião para esclarecer que na sua opinião todos os símbolos do estado italiano não tem o menor valor, sendo que a identidade italiana de fato é uma invenção baseada no nada. A Lega Nord é um partido que defende a autonomia das regiões do Norte, com posições muitas vezes xenófobas, aos limites do racismo; mas suas afirmações tem um fundo de verdade.

As pesquisas sociológicas regularmente revelam que os italianos se identificam principalmente com a sua cidade de origem, depois com a região, sendo que a identidade nacional não constitui uma referência das mais importantes. Primeiro sou fiorentino, milanese, napoletano, siciliano, e só depois me considero italiano. O problema também é que, numa identidade nacional por si muito pouco obvia, interveio a tragédia do fascismo, antes da segunda guerra, que impôs à população uma versão tão ridícula e insustentável do “amor pátrio”, baseada em improváveis referências à antiguidade e em pretensões grotescas de construir um império colonial, que hoje parece difícil declarar o amor pela pátria sem lembrar daquele nacionalismo demente que levou à aliança com Hitler e a maior tragédia da nossa história. Por isso os presidentes da República, como o atual Presidente Giorgio Napolitano, se esforçam de reconduzir a identidade italiana à época da luta pela independência contra a dominação austríaca, no século 19. Mas passou muito tempo, e hoje, na verdade, a grande maioria da população sente mesmo o orgulho de ser italiano só quando la nazionale azzurra consegue bons resultados. O que, também, faz um tempinho que não acontece…
Artigo Corriere della Sera

Marco De Liso
italianonline

Tags:
,
Italianonline Escola de Língua Italiana
info@aulasitalianonline.com.br